"E se me achar estranha, respeite. Pois até eu fui obrigada a me respeitar!" (Clarice Lispector)
Como sempre, Clarice falou. E disse.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Com certeza você já sonhou em escrever (ou ler) um recado assim...
Recado ao Senhor 903
“Vizinho,
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor ainda teria ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro tem direito a repouso noturno e é impossível repousar no 903 quando há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor; é impossível ao 903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos: apenas eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. Prometo. Quem vier à minha casa (perdão: ao meu número) será convidado a se retirar às 21h45, e explicarei: o 903 precisa repousar das 22 às 7 pois as 8h15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o levará ate o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa vida, vizinho, está toda numerada: e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe desculpas – e prometo silêncio.
[...] Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: ‘Vizinho, são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou’. E o outro respondesse: ‘Entra vizinho e come do meu pão e bebe do meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela’.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a amizade entre os humanos, e o amor e a paz.”
Rubem Braga
sábado, 17 de outubro de 2009
Minha mais nova aquisição: Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski
Olá!
Hoje venho aqui no blog expressar a minha felicidade em ter (finalmente) adquirido uma das obras mais geniais de que se tem notícia: Os Irmãos Karamázov, de Fiódor Dostoiévski. Confesso que ainda não dei início à leitura, porém sei da importância ímpar que a obra possui. Capaz de influenciar pensadores como Nietzsche e Freud, que chegou a considerá - lo "o maior romance já escrito", Os Irmãos Karamázov traz na sua narrativa um Dostoiévski ainda mais visceral e inesquecível. Apaixonar - se pelo mais importante escritor russo é algo quase que certo (digo "quase" porque tenho ciência de que nem todos agradam - se com os seus escritos). Eu mesma dei início a essa paixão por meio da leitura de Crime e Castigo, um clássico por si só.E o mais bacana de tudo: a edição que adquiri é a da Editora 34. Isso significa que temos uma obra da mais alta qualidade, pois os textos são traduzidos diretamente do russo para o português. E também significa um motivo de orgulho pessoal, pois fui aluna do tradutor - o mestre Paulo Bezerra (merecidamente homenageado neste blog) durante os meus anos de estudo na UFF. Bem, uma certeza que tenho é de que assim como na leitura de Crime e Castigo, terei uma agradável surpresa ao transitar pelas páginas de Os Irmãos Karamázov. Em se tratando do inigualável Dostoiévski, isso é mais do que certo.
Presente
Olá!
Este é o poema mais recente de minha autoria, que estará juntamente com outros escritos de mesmo valor - a abordagem do amor como algo real e componente do cotidiano. Também é a composição que marca o meu retorno aos escritos poéticos. Dedicado à pessoa mais importante que já tive a oportunidade de conhecer (e ter). É um relato de amor. Um poema de amor. Uma história de amor.
Presente
Antes de ter você,
Minhas noites eram vazias. Não havia vida correndo em minhas veias.
Antes de provar o mel do teu beijo,
Tinha de conviver com o fel das escolhas erradas.
Antes de cair nos teus braços,
Contentava – me com a esperança de um dia encontrar um amor.
Ah, um amor. Isso mesmo. Um amor.
Antes de enfeitiçar – me com o teu olhar,
Agitava – me com músicas e danças na solidão do meu ser.
Um edifício, um castelo,
Longos e róseos corredores
E nesses caminhos incertos
Encontrei você.
Na porta de um elevador,
Todas as palavras resumidas em dois sorrisos.
Quem poderia imaginar um sentimento tão intenso
Ser encontrado nos degraus de uma escada?
Libido e volúpia
Unidas a dois corpos pulsantes
A amar sem limites nem hora para partir...
E deste amar incessante, desta vontade de ter
Surgiu um novo caminho
Que nos levou a um encontro
Definitivo para as nossas vidas.
E você, meu único e precioso presente,
É tudo hoje que tenho.
Meu ar, minha pulsação,
Meu caminhar, meu cantar, meu pensar,
Meu viver.
Por mais que eu parta
Não me deixes.
Nem que para isso,
Eu tenha de renascer.
Para ser o teu presente,
O teu viver.
Letícia Häangler-Bohr
Este é o poema mais recente de minha autoria, que estará juntamente com outros escritos de mesmo valor - a abordagem do amor como algo real e componente do cotidiano. Também é a composição que marca o meu retorno aos escritos poéticos. Dedicado à pessoa mais importante que já tive a oportunidade de conhecer (e ter). É um relato de amor. Um poema de amor. Uma história de amor.
Presente
Antes de ter você,
Minhas noites eram vazias. Não havia vida correndo em minhas veias.
Antes de provar o mel do teu beijo,
Tinha de conviver com o fel das escolhas erradas.
Antes de cair nos teus braços,
Contentava – me com a esperança de um dia encontrar um amor.
Ah, um amor. Isso mesmo. Um amor.
Antes de enfeitiçar – me com o teu olhar,
Agitava – me com músicas e danças na solidão do meu ser.
Um edifício, um castelo,
Longos e róseos corredores
E nesses caminhos incertos
Encontrei você.
Na porta de um elevador,
Todas as palavras resumidas em dois sorrisos.
Quem poderia imaginar um sentimento tão intenso
Ser encontrado nos degraus de uma escada?
Libido e volúpia
Unidas a dois corpos pulsantes
A amar sem limites nem hora para partir...
E deste amar incessante, desta vontade de ter
Surgiu um novo caminho
Que nos levou a um encontro
Definitivo para as nossas vidas.
E você, meu único e precioso presente,
É tudo hoje que tenho.
Meu ar, minha pulsação,
Meu caminhar, meu cantar, meu pensar,
Meu viver.
Por mais que eu parta
Não me deixes.
Nem que para isso,
Eu tenha de renascer.
Para ser o teu presente,
O teu viver.
Letícia Häangler-Bohr
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Ao mestre com carinho: Paulo Bezerra
Olá!
É com grande satisfação que venho hoje ao blog prestar uma merecida homenagem a um dos mais importantes tradutores do nosso país. Tive a oportunidade de ser aluna do grande mestre Paulo Bezerra na UFF e de estar perto de uma pessoa de grande coração e de uma simpatia contagiante. Como diz o ditado, "As ações falam muito mais do que as palavras". Então decidi postar nessa homenagem um pouco do que é o importante trabalho de Paulo Bezerra frente às traduções de Fiódor Dostoiévski, simplesmente um dos maiores expoentes da literatura russa e um dos mais consagrados de toda a literatura universal.
Paulo Bezerra
Natural do Estado da Paraíba, Paulo Azevedo Bezerra nasceu em 7 de fevereiro de 1940. Professor, tradutor e ensaísta, é graduado em História e Filologia, com especialização em tradução, pela Lomonóssov State University (1969), de Moscou, e em Língua Portuguesa e Literatura, pela Universidade Gama Filho/RJ (1976). Mestre e Doutor em Letras pela PUC-Rio, professor de Teoria Literária e Literatura Brasileira pela UFF, atualmente exerce a livre-docência em Literatura Russa pela USP.
Entre os anos de 1963 a 1971, morou na ex-União Soviética, em Moscou, onde começou a traduzir, inicialmente como prática acadêmica no curso de tradução, e em seguida, na Rádio Moscou. De volta ao Brasil, paralelamente à atividade como professor, deu início a um importante trabalho de tradução da língua russa para o português, e embora fosse familiarizado com idiomas como o espanhol, o francês e o italiano, traduziu exclusivamente do idioma eslavo.
Paulo Bezerra traduziu mais de 30 títulos, em todas as áreas de conhecimento e dos mais diversos autores, de Vigotski a Bakhtin, de Kopnin a Dostoiévski. Devido à diversidade de títulos traduzidos, para verter obras da área de ciências humanas, costuma adotar o critério da importância e da novidade; para trabalhar com aquelas de ficção, o critério estético. Além de artigos em periódicos, escreveu também Dostoiévski: Bobók - Tradução e análise do conto, ensaio onde descreve o processo de tradução empregado à narrativa do grande escritor russo.
Pela obra traduzida, Paulo Bezerra recebeu três prêmios: Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (2002) e Prêmio Paulo Rónai (2002), da Fundação Biblioteca Nacional, por O idiota, de Dostoiévski, e Prêmio Jabuti da CBL (2º lugar, 2005) pela tradução de Os Demônios, do mesmo autor.
Fonte: DITRA - Dicionário de Tradutores Literários no Brasil
Ao grande mestre, um carinhoso abraço e a certeza da admiração verdadeira!
Vanessa Leticia Lamas.
sábado, 10 de outubro de 2009
Apresentação do Blog Literama
Olá!
É com grande satisfação que apresento o blog Literama. Nascido de uma ideia simples de unir poemas e escritos de autoria desta que vos fala com o que há de mais bacana na literatura e na cultura atuais (sem esquecer é claro do que já é consagrado). Enfim, um espaço não só para a publicação de material inédito como também para a publicação de assuntos interessantes (e geralmente pouco divulgados pela "grande mídia" - ainda bem!) e nem por isso menos prazerosos.
Välkommen! Bem-vindo!
É com grande satisfação que apresento o blog Literama. Nascido de uma ideia simples de unir poemas e escritos de autoria desta que vos fala com o que há de mais bacana na literatura e na cultura atuais (sem esquecer é claro do que já é consagrado). Enfim, um espaço não só para a publicação de material inédito como também para a publicação de assuntos interessantes (e geralmente pouco divulgados pela "grande mídia" - ainda bem!) e nem por isso menos prazerosos.
Välkommen! Bem-vindo!
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