quinta-feira, 11 de março de 2010
Chico Buarque lê Álvaro de Campos
Encontrei este video onde Chico Buarque lê Dobrada à Moda do Porto num restaurante em Lisboa. Video simples, porém encantador.
terça-feira, 2 de março de 2010
Álvaro de Campos e sua Dobrada à moda do Porto
Fernando Pessoa é um poeta singular. E isso é inconteste. Porém, a obra poética que mais me toca é a do heterônimo Álvaro de Campos. Sua escrita é a mais visceral, a mais angustiada, a mais humana possível. A genialidade dos versos encontra-se nos elementos mais simples, como ilustra o poema a seguir. Talvez por isso Dobrada à moda do Porto seja o meu poema favorito entre todos de Pessoa e seus heterônimos.
Dobrada à moda do Porto
Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...
(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).
Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Álvaro de Campos
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